quinta-feira, 6 de maio de 2010

Uma tarde na escuridão...

...Prova que o ser humano já não é mais NADA sem a energia elétrica. Sem televisão/rádio/computador, as pessoas parecem formiguinhas se afogando naquela cauda de chocolate na qual tanto desejavam. E olha que eu não estou metáforizando a água e, muito menos, o petróleo! Consumir eletricidade se tornou uma necessidade fisiológica. Só pra vocês terem uma ideia, eu não consigo mais dormir com o computador desligado porque eu me acostumei com o som do cooler. A verdade incontestável é que hoje, para a maioria esmagada e esmagadora da população tijucana, o mundo do qual elas sugam o mel até a última gota (e, infelizmente, isso também nem é uma metáfora) parece ter perdido o doce. Mesmo com um lindo céu azul e um sol radiante nos proporcionando um calor irredutível de 34º C, a nossa imensa colmeia parecia ter sido mergulhada em trevas. O caos estabelecido no centro da cidade alterou a rotina de todo mundo. Guardas de trânsito foram recrutados para auxiliar no tráfego mas não adiantou muito... Porque os tijucanos são, sem dúvida nenhuma, os motoristas mais "barbeiros" do Triângulo Mineiro! Eu quase morri duas vezes hoje. E isso em plena luz do dia! Se o blackout tivesse ococrrido durante a noite, eu aposto que ia ter gente andando de moto no meio da pista de caminhada, alí na Marginal José João Dib. Aliás, seria mesmo correto chamar esse falta de energia diurna de "blackout"? A última vez em que eu estive em um blackout de verdade foi em Outubro de 2007. Aquilo sim foi trevas! Uma noite fria e eu sozinho em casa. Ainda não me contentando com tal liberdade (ou tamanha solidão), eu tranquei a minha casa e saí correndo por aí, que nem um cachorro que escapou da coleira! Minha pernas me levaram até a porta da casa do Linguissa e minha insistencia o levou comigo. Nós dois saímos por aí gravando um monte de vídeos estúpidos usando o celular dele (na época, eu me recusava a ter um celular) e estragando músicas boas com nossas vozes e nossas risadas. É um dia legal de se lembrar. Mesmo quando a cidade já estava completamente iluminada outra vez, o último lugar do mundo aonde eu queria estar era aqui: Na frente do computador. Mas é claro que eu não tenho um pingo de aversão aos avanços tecnológicos. O fato de eu não ter um celular até Novembro de 2007 era porque eu não via necessidade nisso. As pessoas nas quais eu realmente precisava moravam a uma distância bem curta da minha casa e, independentemente disso, a gente se via todo dia! Bons tempos... Que já se foram. Mas, se vocês querem saber mesmo, eu não culparia o tempo por isso. Afinal de contas, o tempo não pode parar um único segundo para pensar no que ele fez. Talvez eu devesse culpar o destino... Se é que ele existe mesmo (e, sinceramente, eu prefiro acreditar que sim porque isso me deixa menos inseguro em relação ao futuro). Enfim... Como eu dizia, 2009 foi o único ano em que eu realmente senti necessidade de usar um telefone celular. Já esse ano, eu não me lembro de ter recebido UMA ligação sequer. E talvez eu nem vá! Tanto é que agora eu raramente carrego a bateria do meu celular. Televisão ás vezes eu assisto quando eu tenho tempo livre e não há nada melhor pra fazer mas é algo que já não me faz tanta falta (pode ser que eu só diga isso por não ter TV a cabo/por assinatura e não poder passar o dia todo assistindo filmes em canais fechados). Rádio eu não ouço desde que a "Toca do Dinossauro" foi extinta. Toca Do Dinossauro, para quem não chegou a acompanhar, era um programa que passava toda Sexta-feira, das 10 até a meia-noite (na Cancella FM, eu não me engano). Só rolava coisa antiga: AC/DC, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, Pink Floyd, Janis Joplin, The Doors, Beatles, Rolling Stones, The Who, Cream, David Bowie, Bob Dylan, Creedence Clearwater Revival, Queen, Bad Company, Elvis Presley, James Brown, ABBA, Bee Gees... Cara, como eu sinto falta disso! Quando o programa deixou de existir, parecia até que um meteoro havia mesmo caído no meu mundo! Atualmente, o computador é algo que eu considero bastante útil pra mim: Eu guardo nele as coisas que eu crio, eu leio sobre coisas, eu baixo coisas, eu converso com pessoas... Sobre mim, sobre eles e sobre coisas. Eu conheci pessoas nas quais eu realmente valorizo e conheci coisas nas quais eu passei a valorizar. A Internet é um mundo além da nossa própria vida. Nela, você pode saber das coisas antes que o Richard Rasmussem ou o Maurício Kubrusly te contem. Com o passar do tempo, ela deixou de ser apenas um novo formato de mídia. Agora, ela é como uma Bíblia. Seriam os computadores... DEUS?! Não vai demorar muito para aparecer um cartaz na porta da Brasil Novidades dizendo "Igreja Tecnoteísta: Faça um backup em sua vida". A serpente com cabeça de USB fez com que Bill Gates comesse a Apple mas somos nós quem estamos tomando no disco rígido. Mas nós precisamos das máquinas no mundo. O mundo é que nunca precisou delas. A verdade é que o mundo não precisa delas ou de nós e faz um certo tempo que as pessoas tem tratado o planeta como se já não precisassem dele também. Bullshit! Ah, o ser humano... Sempre cuspindo no prato que comeu e ainda implorando pela sobremesa. Não há mais cauda de chocolate, né? Crianças tolas! Pais irresponsáveis de uma modernidade gananciosa e filhos ingratos de uma terra atenciosa. Curvem-se diante dos super-heróis de sua rotina: As máquinas. São elas quem fazem as tranqueiras, engenhocas e as bugingangas funcionarem. Agora tudo mundo vai para o trabalho de carro e não cavalgando. Isso é ruim? Depende do seu ponto de vista. Você tem sente pena dos cavalos? Bem, eu sinto... Mas os carros poluem a atmosfera, né? Poluem... Mas agora existem carros que não poluem a atmosfera, né? Existem... Mas só os carros poluem a atmosfera? É claro que não! Tem várias outras coisas que poluem a atmosfera... E grande parte dessas coisas são operadas por computador, né? Tá bom, eu tornei tudo bastante paradoxal. Tão paradoxal quanto a inteligência dos homens, que foi capaz de criar algo ainda mais inteligente. Mas a forma como o mundo se tornou um zoológico de vida metálica a partir do século XX e como a ambição se tornou um experiente carrasco mostra que é esse um preço no qual eu sou forçado a pagar. E, assim como profetas e arrependidos, eu me recuso a tal. Até porque eu sou um cara que sonha com o mundo sendo de um jeito no qual ele nunca será. Um mundo no qual todo mundo seria livre... Não simplesmente solto. Um mundo perfeito no qual ninguém fosse prejudicado (nada de pessoas dando chicotadas nos cavalos). Um mundo no qual, se fosse possível, as pessoas nem mesmo pisassem nas formigas enquanto caminham. Mas isso é uma utopia, né? É uma pena. Eu gostava de andar a cavalo e um carro fará diferença na minha rotina. O equilíbrio natural está presente até nas ferramentas artificiais. O homem vive construindo ou destruindo, se multipilicando ou subtraindo a existência de outros homens... Somos descritos, por nós mesmos, como uma praga. Mas a verdade é que nós não passamos de meros fungos em uma bola de bilhar azul e verde... Que está indo para a caçapa, diga-se de passagem. E a tecnologia é a umidade que nos deixa viver naquela migalha de pão velho esquecida atrás da geladeira. O que nós seriamos hoje em dia sem tudo isso... Além de uma grande porção de nada? O que seria de nós, os mais de 6,2 bilhões de funguinhos, longe da umidade? Eu não falo só dos moradores de Ituiutaba. Eu falo de toda a civilização moderna, que agora vive nas sombras das máquinas tentando apertar os parafusos em suas próprias cabeças. E, dependendo do dia, eu posso até ser incluído nisso. Sinceramente, eu não sei o que seria de nós. E nem você. E nem as estufas, nem os semáforos, nem as máquinas de refrigerante, nem os desfibriladores e muito menos a minha guitarra, que um dia já foi uma árvore bem grande e robusta e esteve mais firme na terra do que todos nós. Talvez eu pararia para pensar e até me sentir culpado por isso no meu "mundo perfeito", né? Quem pensa, logo existe. E, se você pensa, aparece uma lâmpada sobre a sua cabeça! Definitivamente, você já não existe sem energia elétrica...